segunda-feira, 20 de outubro de 2014

História dos 1000 km de Suzuka (Parte III) – A vez do turismo: BPR, FIA GT e os nativos

No post anterior vimos a era oitentista de Suzuka: a transição do período do Grupo 5 ao sucessivo Grupo C (com a implementação da corrida no calendário da JSPC), as vitórias do Porsche 956/962 e o triste fim da categoria. Neste post, vou contar o que define exatamente os anos 90 da lendária corrida de 1000 km de duração: sai os belos protótipos feitos para durar nas pistas e entram os gran turismo que podemos ver não só andando nas pistas, mas andando também nas ruas.

Com o Grupo C despachado, restou aos organizadores da corrida anual entregarem o circuito a um calendário de nível internacional – algo que aconteceu em 1992 graças ao fracasso e a decadência das novas regras do Grupo C. Ao meu ver a decisão não era necessária, pois os 1000 km de Suzuka poderiam fazer parte em definitivo do JGTC, mas em 1994, surgiu um dos campeonatos internacionais mais influentes do mundo quando se fala em turismo nos dias de hoje. Falo do BPR Global GT Series, ou BPR Global Endurance GT Series, como preferir, foi elaborado por Stéphane Ratel (que fundará a SRO em 1995), Patrick Peter e Jürgen Barth.

O campeonato traria atrativos como oito corridas espalhadas pelo mundo (incluindo o Japão/Suzuka, o interesse desse post) e carros de corridas baseados nos modelos mais avançados da Ferrari, Porsche, Lotus, Venturi e cia. A maioria era europeu, mas também apareciam americanos como o Callaway Corvette e japoneses como Toyota Supra e Skyline GT-R, especialmente em Suzuka.

A maioria das corridas do primeiro ano do BPR tinham 1000 km de duração, então era ideal que Suzuka fizesse parte da festa. Em 1994, cerca de 39 carros foram previamente inscritos nos 1000 km de Suzuka, com direito até a participação de um velho guerreiro construído no regulamento do Grupo C, o Toyota 94C-V, que chegou em segundo lugar na edição das 24 Horas de Le Mans do mesmo ano. Não me pergunte como ele foi aceito numa categoria de turismo, ele foi o único carro do tipo a participar. O restante era composto por carros da GT1, GT2, GT3, N1 e os pequenos bolhas RS. Suzuka era a penúltima corrida daquela temporada.

Quanto ao resultado, deu Porsche, mais uma vez, mesmo no turismo, um 911 da geração 964 conhecido como Turbo S LM, venceu sob direção de Bob Wollek, Jesús Pareja e Jean-Pierre Jarier... que nomes!

Um resumo da temporada do BPR em '94 (1000 km de Suzuka a partir de 21:50 do vídeo):

  

Em 1995, com mais de 10 corrida no calendário, o BPR teve quase 50 carros participando da corrida de Suzuka, pra você ver como japonês curte correr de carro. Em resumo, com a interessante elaboração do campeonato, o ano seguinte do BPR também teve passagem por Suzuka – e foram completamente dominados pela nova figura do endurance mundial: a McLaren F1 GTR.

O brasileiro Maurizio Sandro Sala foi um dos pilotos do F1 GTR #1 que venceu
os 1000 km de Suzuka em 1995. Note a pintura similar ao do vencedor de
Le Mans no mesmo ano
Depois que a Porsche introduziu o 911 GT1 em 1996 na corrida de Spa e o enorme interesse das principais montadoras em  investir no campeonato, o BPR teve seus dias contados. Já dá pra imaginar o que vem por aí...

Entrava em cena o FIA GT. E os 1000 km de Suzuka foi junto!
A partir de 1997, criou-se uma visão diferente dos novos Grand Touring 1 (GT1). Nesse ano, o interesse no campeonato foi de imediato – entraram em cena a Mercedes, Porsche (de caráter oficial), Panoz, entre outras. Com o conceito já adotado pelo 911 GT1 em 1996, todos os modelos que começaram a competir na principal classe a partir do ano de '97 apresentavam a mesma característica: corpo de protótipo, mas que mesmo assim parecessem ao máximo as versões de rua referentes. A especificação não condiziam em nada com as versões originais, mas cada carro participante da classe (e do campeonato) teve pelo menos 25 versões de rua construídas para ser homologada. A medida por si só não é inovadora, pois em 1994 a Dauer construiu alguns Porsche 962 exclusivos adaptados para andar nas ruas, mas com propósito de vencer especialmente as 24 Horas de Le Mans – dito e feito.

A corrida de 1997 dos 1000 km de Suzuka foi completamente dominada pela Mercedes-Benz CLK-GTR.


Recomendo assistir todas as partes!

Em 1998, apareceu uma segunda variante da já campeã CLK-GTR no ano anterior: a CLK-LM. Com esta nova versão, não foi diferente: as duas melhores qualificadas partiram da posição 1-2 (as antigas CLK-GTR largaram na 4-5) e sequer deram chances aos rivais, como o belíssimo Porsche 911 GT1-98.
CLK-LM vencedora da edição de 1998
Sim, o canguru (leia-se Mark Webber) esteve no carro vencedor!

E você acha que só o pessoal do FIA GT apareceu pra correr? Não. Pela primeira vez, alguns carros que estavam competindo a tempo inteiro no JGTC na época optaram por inscrever seus carros na corrida, como foi o caso do Honda NSX #100 do Team Kunimitsu (que infelizmente abandonou), o Nissan Silvia S14 do Team Daishin e o Toyota Supra da SARD especialmente preparado para esta corrida, com o numeral #139, entre outros.

Como a Mercedes tinha sido campeã definitiva do FIA GT em 1997 e 1998, as outras equipes desinteressaram no campeonato e retiraram seu programa de desenvolvimento. Além da categoria GT1 sofrer mudanças drásticas pelas mãos da ACO (organizadora das 24h de Le Mans) e da FIA, devido a influência dos esporte-protótipos e o altíssimo custo de desenvolvimento.

O ano de 1998 foi o último do FIA GT em Suzuka.
Mas a tradicional corrida de 1000 km não tinha como ficar órfão de evento, então no ano seguinte, foram aceitos os carros do JGTC em definitivo, mas a corrida não fazia parte do calendário oficial do campeonato.

Isso é assunto para a parte IV, que virá nos próximos dias!

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